domingo, 17 de abril de 2011

PÁSCOA DE RESSURREIÇÀO-A- (24-04-11)



1a leitura At 10, 34 a. 37-4

O dia de Pentecostes, com a vinda do Espírito Santo, Pedro e os outros apóstolos tomam consciência do significado, do alcance e da importância do evento da ressurreição de Jesus. Naquele mesmo dia Pedro se dirige também em nome dos outros apóstolos, ao povo com as palavras: “E nós somos testemunhas de tudo o que Jesus fez na terra dos judeus e em Jerusalém”. Ele faz um resumo da vida e da missão de Jesus que os ouvintes podem com facilidade reter como certo e objetivo na sua parte histórica “ Vós sabeis (...) como Jesus de Nazaré (...) andou por toda parte fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio (...)Eles- as autoridades do povo- o mataram, pregando-o numa cruz”. Estes fatos de crônica são colocados pelo impulso e pela iluminação do Espírito Santo, a partir do evento desconcertante, acontecido faz 50 dias, do qual só agora toma(m) plena consciência: “ Más Deus o ressuscitou no terceiro dia, concedendo-lhe se manifestar-se não a todo o povo, mas à testemunhas que Deus havia escolhidos: a nós que comemos e bebemos com Jesus, depois que ressuscitou dos mortos”. É a luz do significado e da importância deste evento que se manifesta a pessoa de Jesus como “ungido por Deus com Espírito Santo e com poder (...)”, quem age eficazmente contra os demônios “porque Deus estava com ele”. Com isso, a compreensão da figura de Jesus não é simplesmente reduzível a um fato de crônica registrado pelo(s) observador (es), que apresenta o acontecido como fosse uma câmara de vídeo. Trata-se do testemunho da(s) pessoa(s) já envolvida(s) profundamente no evento desconcertante, não acessível ao povo todo indistintamente. Mais ainda, são pessoas “que Deus havia escolhido: a nós que...”. Portanto, é preciso não perder de vista que se trata do testemunho simultaneamente histórico e teológico. Trata-se de testemunhas que acompanharam Jesus na sua atividade pastoral desde o inicio, desde o batismo no Jordão até comeram e beberam com o ressuscitado. Tudo isso, sugere uma ligação entre o caminhar com Jesus no dia –a- dia e a experiência do mesmo ressuscitado, após a terrível experiência da cruz. Cabe pensar que a experiência do Ressuscitado é accessível a toda pessoa que hoje, como os apóstolos, seguem Jesus no caminho da ética por ele implantada, sem desviar, apesar das seduções de outras propostas e sem desistir pelas provações e pelas dificuldades. Continuar fielmente, mesmo entre trancos e barrancos, é condição para perceber a presença do Ressuscitado no próprio mundo interior, como foi para são Paulo: “ Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). É perceber, também, a presença Dele no jardineiro, no viandante desconhecido, no homem beira o mar de Tiberiade, para citar experiências relatadas pelos evangelhos. Dessa maneira, toma consistência a condição de testemunha confiável. De fato, a finalidade da manifestação do Ressuscitado, não é, simplesmente, legitimar a pessoa de Jesus como Messias, Filho de Deus e constituído pelo Pai “Juiz dos vivos e dos mortos”, mas capacitar o discípulo como testemunha para a missão “E Jesus nos mandou pregar ao povo e testemunhar que Deus o constituiu Juiz dos vivos e dos mortos (...). Todo aquele que crê em Jesus recebe, em seu nome, o perdão dos pecados”. Pregar a partir da experiência do ressuscitado ou sem ela faz diferença de não pouca conta, como é o falar por ter ouvido falar dele, e falar por tê-lo visto. Está em jogo a qualidade da missão. Ser testemunha autentica configura o discípulo no presente e no futuro com as características indicadas na 2da leitura.

2da leitura Cl 3,1-4

Pois vós morrestes, e vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus”. Vós morrestes deve ser entendido não em sentido de morte física, mas de morte ao pecado e ao mal. Em virtude disso, o mal e o pecado, sempre presentes no dia-a-dia, não têm poder de domínio sobre a testemunha. Seria como agir sobre o cadáver. Por isso que são Paulo afirma: “Por ele (Jesus Cristo), o mundo está crucificado para mim, como eu estou crucificado para o mundo”. Com a vida escondida em Deus com Cristo, Paulo afirma a misteriosa participação da testemunha, do discípulo, à comunhão de vida em Deus, doada por meio da morte e ressurreição de Cristo e alcançada pela fé. Mesmo misteriosa, a comunhão é percebida pela testemunha, pois, é a seiva da nova existência e o meio pelo qual se viabiliza e acontece nele a experiência do Ressuscitado. Daí, então, as palavras “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto (...) aspirai às coisas celestes e não as coisas terrestres”. Conseqüentemente, a prova ad autenticidade do testemunho é o esforço e a vontade de alcançar níveis de mais profunda comunhão no mistério de amor de Deus, vencendo toda sedução de ficar preso aos apelos de uma vida simplesmente entendida dentro dos horizontes humanos. Com outras palavras, o experimentar os efeitos da morte e ressurreição de Cristo suscita a esperança e o desejo de algo ainda mais profundo, que motiva o correr para a meta que sempre estará na frente, continuamente inalcançável, por ser o Mistério e a realidade de Deus. Ao mesmo tempo, estabelece a permanente luta e tensão entre aspirar “as coisas celestes e não as coisas terrestres”. Dessa forma, é implantada a tensão entre o “já”- o participar do efeito da morte o ressurreição de Jesus-, e o “ainda não”- aquilo que seremos e veremos “quando Cristo, vossa vida (no presente), aparecer em seu triunfo (futuro)”. Não haverá decepção nem desilusão com respeito a isso tudo. Olhando à meta das pessoas e da humanidade, à luz da revelação do mistério da morte e ressurreição, são Paulo sintetiza “Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória”. É o momento da intervenção última e definitiva de Deus, na qual se desvendará o sentido e a meta da humanidade e de cada pessoa. Corresponderá, também, à vinda do Ressuscitado no final dos tempos. Então, se revelará a intima comunhão com a glória de Cristo, os dois “revestidos de glória”. Deixar-se tocar pelo evento da morte e ressurreição cria um novo sujeito no sujeito. Sem deixar o que somos, vai-se construindo uma nova identidade que integra , transforma e complementa o ser da pessoa criada à imagem e semelhança de Deus. Esta imagem vai cada vez mais semelhando a Ele, num processo muito singular pelo qual, sugere o teólogo alemão (E. Hofmann), “ desde o começo de sua vida o homem tem não só uma ‘corporeidade exterior’, e sim, também, uma ‘corporeidade interior’, ou seja, sua verdadeira pessoa, o autêntico ‘eu’, que vai crescendo no dia a dia e se torna mais forte, na medida em que permanece na comunhão com Deus e aberto à criação (homens e natureza), para após a morte ser acolhido e levado à plenitude por Deus” Dessa forma, o humano e o divino se integram no respeito da especificidade de cada natureza, de maneira que o humano se faz mais humano - assumindo a glória e Deus -, e o divino se faz mais divino pela da glorificação da pessoa humana. Com outras palavras, as duas naturezas entram num processo simbiótico pelo qual crescem em conformidade ao ser profundo delas: o homem se diviniza e Deus se humaniza.

Evangelho Jo 20,1-9

O evento da ressurreição foi totalmente inesperado e, sobretudo, foi muito além de toda experiência e entendimento ao alcance dos discípulos. Portanto, também a compreensão deles será progressiva, e, como frisado na 1ª leitura, só em Pentecostes os discípulos terão consciência do alcance do evento. O mesmo texto anota “ De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos”. É impossível querer saber o que a ressurreição foi para Jesus. Seria perguntar-se a respeito da existência do crucificado num mundo do qual não temos experiência. A primeira aproximação ao evento é das mulheres que, simplesmente, encontram o sepulcro vazio “Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram”. Desconcertadas e assustadas- não é difícil imaginar o estado de animo delas-, referem aos discípulos cuja reação impetuosa é registrada “Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais de pressa que Pedro e chegou primeiro ao túmulo”. Eles conferem a ausência do corpo de Jesus e anotam detalhadamente o singular posicionamento das faixas “Viu as faixas de linho deitadas não chão e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte”. Com isso constatam que alguma coisa muito singular devia ter acontecido. Se o corpo tivesse sido roubado, os autores não teriam se preocupados de deixar as faixas como estavam, menos ainda, dobrar o pano que tinhas estado sobre a cabeça de Jesus. João, “o outro discípulo, aquele que Jesus amava (...) entrou (...) viu, e acreditou”. Acreditou que o corpo não foi roubado e que algo muito singular aconteceu. “De fato, eles ainda não tinham compreendido (...) que El devia ressuscitar dos mortos”. Parece-me importante o destaque do desaparecimento singular e desconcertante do cadáver de Jesus. Tudo isso prepara o passo seguinte: a revelação do evento da ressurreição que atinge aquele corpo crucificado não encontrado no sepulcro. E explica o porquê e o significado do desparecimento nos termos que o anuncio sucessivo atribuirá à intervenção de Deus. Este destaque do desaparecimento do corpo morto parece-me de grandíssima importância para afirmar a verdade da característica do evento da ressurreição. Ele será interpretado, pelas autoridades e outros, erroneamente, de diversas formas, como a ressurreição da alma ou do espírito, como uma morte aparente, como experiência de uma visão emocional e afetiva, etc. O evento da morte de Jesus pelo conflito do verdadeiro ou falso entendimento da realidade de Deus e seus desdobramentos em nível do ser profundo e do comportamento,revela a cada pessoa a dimensão divina presente nela, assim como a possibilidade e a condição do ser desenvolvida com sucesso.

domingo, 10 de abril de 2011

DOMINGO DE RAMOS-A-(17-04-11)


1a leitura Is 50,4-7

Com o terceiro cântico do “Servo de Javé”, do profeta Isaias, começa a Semana Santa. A figura do Servo de Javé é descrita nos quatro cânticos. Do terceiro é tirado o texto desta primeira leitura. (É muito importante ler e meditar conjuntamente aos outros três: Is 42,1-9; 49,1-9 e 52,13 até o final do cap.53). É a figura de um sujeito (uma pessoa, mas, alguns estudiosos dizem que é um “resto” fiel do povo de Israel) chamado, ungido, pelo Espírito. Ele, conforme a vontade de Deus deverá sofrer e entregar sua vida para resgatar e salvar o povo e a humanidade. Após a morte e ressurreição de Jesus, os discípulos e os apóstolos identificarão este personagem com Jesus mesmo. Neste texto, o sujeito é claramente uma pessoa. Ela é diariamente instruída por Deus “O Senhor Deus deu-me língua adestrada (...) ele me desperta cada manhã e me excita o ouvido” e ao mesmo tempo estimulada e motivada a prestar atenção. Não se trata de ouvir por ouvir nem para agradar, mas de “prestar atenção como um discípulo”, como quem apreende para praticar. Com efeito, a primeira atitude do discípulo é a de escutar com todo o coração, com toda a alma e com todo o ser. (Como não pensar ao relato evangélico de Marta e Maria, no qual Jesus elogia Maria por estar aos pés Dele escutando, tornando-se, desta forma, uma discípula!) O escutar é para “ que eu saiba dizer palavras de conforto à pessoa abatida” e assim desenvolver corretamente a missão. Missão que apresenta um aspecto, pelo menos, desconcertante: “ O Senhor abriu-me os ouvidos; não lhe resisti nem voltei atrás” Pelo que se refere a Jesus, foi nas tentações no deserto que entendeu como as palavras de conforto as pessoas abatidas passavam uma lógica e uma expectativa totalmente contrárias ao desejo e entendimento dos ouvintes, e como as mesmas os teriam levado diretamente à cruz. Contudo,Ele não voltou atrás. Foi corajoso e decididamente para frente, até o fim. Eis, então, a rejeição dramática, humilhante e de grande sofrimento “ Ofereci as costas para que me baterem e as faces para que me arrancarem a barba; não desviei o rosto dos bofetões e cusparadas”. Gestos e atitudes de grande desprezo. Foram interpretados pelos presentes - no caso de Jesus- como prova do abandono de Deus, por tê-lo blasfemado com suas palavras e pretensões messiânicas Notável a reação do Servo de Javé: “Mas o Senhor Deus é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o animo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não serei humilhado” É surpreendente não se sentir humilhado nem abatido naquela situação e sofrendo daquela forma, se não for pelo auxílio do Senhor. Em que consistiu o auxílio não é especificado. Tal vez, podemos supor na base do fato que não se deixou abater nem se sentiu humilhado, que teve a percepção no profundo do ser de algo como “o poder de uma vida indestrutível” (Hb.7.16). Esta percepção foi seiva da árvore que sustentou e motivou a radical fidelidade dele. Portanto, no momento da máxima provação, se tornou manifesta e geradora dos estados de animo indicados. Se for certa esta suposição, então, daria para afirmar que o Servo de Javé tem acesso à transcendência e à experiência de Deus, no profundo do próprio ser, pela radical fidelidade no desenvolvimento da missão, conforme a vontade do Senhor. Tudo isso bate com a experiência de Jesus que são Paulo sintetiza magistralmente na segunda leitura.

2da leitura Fl 2,6-11

É o hino dos primeiros cristão (o cantavam na liturgia?) que sintetiza a figura, o alcance e o significado da missão de Jesus. Muito foi escrito e muito se escreverá sobre ele, pela importância do conteúdo. É um texto que todo cristão deveria meditar e decorar. Os versículos seis até oito falam da “descida” de Jesus no nível mais baixo do mal e do pecado. Os outros três do infinitamente oposto: a “subida” na exaltação no céu. Em primeiro lugar, Jesus “esvaziou-se a si mesmo” da condição divina. Colocou como entre parêntesis sua condição divina; não quis usufruir das condições privilegiadas dela. É como se o Presidente renunciasse a todo privilegio, mordomia, honra, mesmo continuando a exercer suas funções. Motivo da escolha foi se colocar na “condição de escravo e tornando-se igual aos homens”. Igual aos homens, no sentido de que mesmo não sendo afastado da comunhão com Deus, da familiaridade com o Pai nem privado da presença do Espírito Santo, se solidariza com o homem pecador, ou seja, do homem que é todo o contrário do que Ele é. Desta forma, coloca entre parêntesis sua condição divina. De fato, a carta aos Hebreus lembra que Jesus assumiu em toda a condição humana menos no pecado. Mais ainda, se iguala e se coloca na “condição de escravo”. Iguala-se para abaixo. É próprio de o escravo servir. Referido a Jesus, consistirá em resgatar a humanidade do afastamento de Deus. “Encontrado com aspecto humano” O povo o encontra como tal, como simples homem, e, ao mesmo tempo, com pretensões messiânicas - e até divinas, como Filho de Deus- que não condizem, de jeito nenhum, com o que Ele diz e faz. Pelo contrário, o povo e as autoridades o acham blasfemo e ateu, merecedor de morte ultrajosa. “Humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz” Por livre determinação Jesus sofre em si mesmo dupla humilhação, simultaneamente, perante do Pai e perante do povo. Ele se apresenta como pecador perante o Pai, por representar a humanidade toda. Ao mesmo tempo, sofre a humilhação e a rejeição violenta de quem está representando: o povo, as autoridades, a humanidade toda. Assim, por um lado, sofre o afastamento do Pai, como conseqüência do pecado, “Deus meu, Deus meu porque ma hás abandonado”. E pelo outro, a morte de cruz, como maldito de Deus “ Maldito seja aquele que for suspenso do madeiro” (Gl 3,13). “Fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz” Obediente a um Pai que, absurdamente, determina entregar o filho inocente? Que cobra do filho o pecado da humanidade? Que o Pai entregue o filho è uma das afirmações mais espantosas do Novo Testamento, absolutamente desconcertante para o entendimento humano. Contudo, por um lado, o evento manifesta a cólera e o juízo de Deus para com o homem pecador. Pelo outro lado, o amor à verdadeira pratica de vida que tira o homem do mal e da própria autodestruição não é negociável, deve ser segurada, custe o que custar São estes dos aspectos que estão no fundo do evento: a cólera e o juízo de Deus, como expressão do amor traído pela pertinaz insistência do homem na própria autodestruição. Mas também, o amor do resgate salvador, por Jesus representar a humanidade toda que não de entrega ao pecado. Enfim, é o AMOR nas suas diferentes expressões que sustenta o evento todo. “ Por isso, Deus o exaltou acima de tudo” O “ por isso”estabelece uma ligação entre o anterior e o posterior. Portanto, aponta à relação entre a cruz e a ressurreição, exatamente por ser a cruz posse da ressurreição. A ressurreição não é um super milagre, mas o efeito da entrega na cruz. Como a cruz foi motivada pelo amor, assim, também, a ressurreição: o amor da entrega é o mesmo que ressuscita. Este é o nome de Deus “Nome que está acima de todo nome” em virtude do qual Jesus é constituído “Cristo”, ungido, Messias e “Senhor” no céu, na terra e abaixo da terra “para a glória de Deus Pai”. Sendo a glória de Deus a vida do homem, na feliz expressão de Santo Irineu, esta se manifestará em todos os homens que aceitarão, pela fé, os efeitos da representação de Jesus Cristo perante o Pai, se tornando seguidores e imitadores do Filho, porque filhos de adoção.

Evangelho Mt 26,14-27,66

O relato da paixão se presta para muitas considerações. Vou comentar somente o relativo à tentação. O relato das tentações no deserto, de Lucas, frisava “Terminada toda a tentação, o diabo afastou-se de Jesus, para retornar no tempo oportuno” (Lc 4,13). “As pessoas que passavam por ali o insultavam (...)salva-te a ti mesmo (...) os sumos sacerdotes (...) também zombavam de Jesus; A outros salvou... a si mesmo não pode salvar! É Rei de Israel... Desça agora da cruz! E acreditaremos nele”. Jesus não se dobrou, não cedeu. Sofre agora as mesmas tentações do deserto. Tal vez, o demônio esperava ter maior sucesso neste momento de fraqueza extrema e de sofrimento, juntamente à sedução de que um gesto tão espetacular. Na expectativa do povo e dos chefes era esperado como prova certa e definitiva de sua pretensão messiânica e de Filho de Deus. Existe prova maior que esta? Do ponto de vista humano não. Então, por que fica? Por que entra na morte? Parece-me por três motivos: - para desfazer a ligação pecado- morte. Pecado e morte estão unidos, pois dirá são Paulo: “A morte é o salário do pecado” (Rm 6,23). A resistência extrema ao pecado levou Jesus à morte. Tendo entrado nela sem se dobrar ao pecado, quebra o elo que os une: “mesmo que morto viverá (...) não morrerá para sempre” (Jo 11,25). Conseqüentemente, à morte vai lhe faltar o que a sustenta e do qual é expressão e manifestação. Agora a morte tem outro significado e, sobretudo, outro destino... - Será que a confiança em Deus depende de gestos grandiosos e surpreendentes? A parábola do rico que pede ser ressuscitado, convencido que, em virtude disso, os irmãos, ainda vivos na terra se converteriam, ensina: “Se eles não escutam a Moisés e aos profetas, mesmo que um dos mortos ressuscite, eles não ficarão convencidos” (Lc 16, 27-31).Cair na tentação teria sido a manifestação do poder grandioso e surpreendente, porém inútil, porque o temor reverencial que suscitaria frente ao poderoso geraria, por um lado, distanciamento e, por outro, a falsa comunhão típica do inferior para com o superior chamados a conviverem juntos. - O efeito da morte de Jesus possibilita a parceria que a cruz sela de uma vez para sempre entre Ele e o discípulo. Quando Paulo entende a ligação, Cristo “me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20), a resposta dele é o seguimento, a imitação. Portanto, “permanecendo completamente unido a Cristo”(Rm 6,5) experimentará “Fui crucificado junto com Cristo” (Gl 2,19). A conseqüência será que “por uma morte semelhante à sua, seremos semelhantes a ele também pela ressurreição” (Rm 6,5). A ligação cruz- ressurreição da 2da leitura Última consideração. Mas, devia ser aquela morte? Não tinha cabimento outra? A morte na cruz manifesta todo o porte da radical tragédia do pecado e do pecador É a morte mais desonrosa e desprezível. Com isso, é manifesto o desonroso e o desprezível do pecado. Por causa dele, Deus manifesta seu afastamento do Filho, sua ira e sua cólera para com Ele, em quanto sujeito feito pecado Gl 3,13. Para os homens a cruz era a maneira certa de manifestar o repudio de toda pessoa que abusasse do título de Messias, de Filho de Deus. Veiam nela a maldição de Deus sobre o condenado. Era expressão do zelo pela causa de Deus. Ironicamente matam a Deus pensando de honrá-lo, de salvar a identidade e a presença Dele no meio do povo. Mais desconcertante, ainda, é que Deus com essa mesma cruz salva os que O crucificam!

sábado, 2 de abril de 2011

5to DOMINGO DA QUARESMA-A-(10-04-11)



.1ª leitura Ez 37, 12-14


Os hebreus exilados se entregaram ao pessimismo, e corre entre eles um ditado: “Nossos ossos se ressecaram; nossa esperança se extinguiu”. Não é difícil imaginar o estado de animo. Reza o salmo 136 “que os opressores (...) os guardas exigiam alegria na tristeza: Cantai hoje para nós algum canto de Sião! Como havemos de cantar os cantos do Senhor em terra estrangeira? Se de ti, Jerusalém, algum dia me esquecer, que se resseque a minha mão. Que se cole a língua e se prenda ao céu da boca, se de ti não me lembrar” (3-6). Para eles o exílio é como um túmulo. Eis, então, a palavra do Senhor “vou abrir a vossas sepulturas e conduzir-vos para a terra de Israel”. Promessa de resgate que enche de alegria e motiva acreditar num futuro bem diferente. Desta maneira o passado fica atrás, no passado, como memória do que comporta e significa se afastar de Deus, para que as gerações futuras se afastem dos mesmos erros dos antepassados. “Porei em vós o meu espírito, para que vivais e vos colocarei na vossa terra”. O Senhor infundirá o espírito da vida, como foi na criação do Adão, soprando no barro se tronou um ser vivente. Será como uma nova criação. É o agir da compaixão e da misericórdia do Senhor, do amor dele para com o seu povo, um povo rebelde, de cabeça dura, mas, enfim, sempre o povo dele, com o qual estreitou uma aliança indestrutível. Viver não é só regatar a existência da pessoa, mas entrar de novo na terra prometida “vos colocarei na vossa terra”, a terra que o Senhor deu aos antepassados, para a edificação do povo da aliança tendo como eixo da vida pessoal e comunitária o direito e a justiça. Reconduzir o povo à sua dignidade de povo de Deus, de povo eleito, visa realizar o sonho de Deus a favor da humanidade em sintonia com o mandamento do amor e a prática de vida correspondente, para que o povo não volte mais à escravidão do Egito implantada na terra prometida e da qual Deus pretendeu purificar com a deportação e o exílio. O provo deve entender que longe de Deus não haverá salvação nenhuma. Pelo contrário, seguir os próprios projetos, confiar simplesmente nos critérios e nas forças humanas, estabelecer alianças entre povos baseados na conveniência e nos interesses das classes dominantes, usarem da mesma religião par garantir privilégios que nada tem a ver com o respeito da Aliança, ser causa de opressão e injustiça para os menos favorecidos é muito ruim no mais profundo sentido do termo. Assim, entender e valorizar esta ação da misericórdia e da compaixão do Senhor que ressuscita a pessoa e introduz, de novo, o povo na terra prometida, deverá ter a sua manifestação na prática de vida tentada pela ação do Espírito Santo, como indica a segunda leitura.

2ª leitura Rm 8,8-11


O texto aponta ao trunfo do Espírito na pessoa, a pesar dos limites e da fraqueza dela. Com efeito, ela é marcada pela luta interior entre duas propostas contrapostas e irredutíveis, que geram o conflito, a luta, que a levará até as extremas conseqüências, como foi por Jesus Cristo. “Vós não viveis segundo a carne”, ou seja, como quem tornou inconsistente, superficial e interesseiro o relacionamento com Deus. Por “carne” Paulo entende tudo o que é obstáculo e não condiz com a vontade de Deus. É o homem afastado de Deus, o homem pecador. Daí que “Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus”. A proposta e a sedução alternativa à vontade de Deus, que faz da pessoa uma realidade carnal, gera profundas feridas na pessoa. A conseqüência disso Paulo aponta a um “corpo ferido de morte por causa do pecado”, indicando a condição dramática no limite entre vida e morte. “Vós (...) viveis (...) segundo o Espírito, se realmente o Espírito de Deus mora em vós”. Paulo retoma o sentido da primeira leitura “Porei em vós o meu espírito, para que vivais”. Mas acrescenta uma condicão: se o Espírito mora em vós. Não coloca em dúvida a presença, mas se esta presença é valorizada, interiorizada, cultivada, aprofundada. Entre o espírito que mora e cada pessoa e o Espírito de Deus, é preciso manter aberta a constante comunicação, como uma torneira sempre aberta. Mas a pessoa tem condição de fechá-la, então a presença do Espírito se torna passiva. Deus é Amor e, portanto, ele se manifesta e se torna possível na comunicação recíproca. É Cristo a mediação desta comunicação “Se alguém não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo”. Cristo e o Espírito são as duas mãos de Deus. “Pertencer a Cristo” é aquela condição pela qual não simplesmente um se identifica com o outro, mas um se percebe no outro, como dois namoradões : eu nele e ele em mim. É neste nível, é nessa condição que a luta tem possibilidade de sucesso “embora vosso corpo esteja ferido de morte por causa do pecado, vosso espírito está cheio de vida, graças à justiça”. Estas palavras abrem um entendimento singular com respeito à condição humana de cada pessoa. Por um lado ela é ferida de morte e pelo outro é cheia de vida, pelo fato que com a morte e ressurreição Cristo, a pessoa aceita o dom gratuito da justificação perante De Deus. Com outras palavras, Deus a redime, a resgata e coloca nela uma nova vida, um novo caminho, uma nova esperança, com respeito ao futuro dela. Como entender a singular combinação do corpo ferido de morte e ao mesmo tempo cheio de vida? No entendimento comum se excluem, uma ou outra. Tal vez, uma imagem é o mesmo Jesus Cristo ressuscitado que mantém as feridas no corpo, bem participando o corpo mesmo de uma vida indestrutível. O poder mortal daquelas feridas foi esvaziado, elas manifestam a realidade de uma vida singular que ultrapassa a simples condição humana. Uma combinação sem dúvida fora do comum. E de fato, Paulo faz referencia à ressurreição “O Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos (...) vivificará também vossos corpos mortais por meio do seu Espírito que mora em vós”. O corpo permanece mortal, mas a mortalidade não será a última realidade dele. Pois, contem a vitória sobre a morte, embora tenha que passar por ela. É uma ressurreição mortal, se é permitido usar esta contradição, que atinge a pessoa de Lázaro, como indica o evangelho.

Evangelho Jo 11, 1-45

Senhor, aquele que amas está doente... Jesus era muito amigo de Marta, de sua irmã Maria e de Lázaro”. Significativa esta específica anotação, pois oferece o pano de fundo da qualidade do relacionamento entre Jesus e eles marcado pelo afeto, pelo carinho, pelo sentimento de amizade. Amizade surgida pela atitude de Jesus que tocou profundamente Maria, pois, o evangelista relata “Maria era aquela que ungira o Senhor com perfume e enxugara os pés dele com seus cabelos”. Cabe destacar o sentimento de Jesus perante a morte do amigo. O texto frisa que “ficou profundamente comovido (...) e chorou”. A emoção foi tão intensa que os judeus comentavam “Vede como ele o amava”. É singular o fato que Jesus ia ressuscitar a Lázaro daí a pouco e, contudo, participa da morte dele com grande emoção e sentimento, como cada pessoa perante a morte do ser querido. É manifesto, portanto, a abrangência da humanidade da morte, perante o evento da ressurreição. Com outras palavras, dois contrários que, no horizonte desta vida humana, convivem juntos no respeito radical da própria autonomia: a morte como morte e a ressurreição como ressurreição. Não há diminuição do valor nem redução de sentido de uma ou da outra. Jesus fala para Marta “Teu irmão ressuscitará”, ela responde como se já soubesse “Eu sei que ele ressuscitará na ressurreição, no último dia”. Com efeito, a tradição sustentava a ressurreição com a finalidade de permitir que à Lei alcançasse toda pessoa, também, após a morte e assim ninguém pensasse fugir das exigências e cumprimento da mesma. Jesus ultrapassa tudo isso e oferece uma compreensão totalmente nova do evento da ressurreição “Eu são a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais. Crês isto?”. Nele se dá o evento, pois, ele mesmo se torna ressuscitado, pelo específico do seu estilo de vida. Com outras palavras. Na vitoriosa luta contra o mal, não ter sucumbido à força e ao poder do pecado e seus efeitos de morte, se manifesta o bem, a comunhão com Deus, a vida em plenitude, ou seja, ressurreição. Assim que ele mesmo é a ressurreição, não é outra realidade exterior a ele que, num determinado momento, após a morte irrompe nele e o transforma. É a força e a realidade intrínseca dele, devida à presença do Espírito e da sintonia com a vontade do Pai. Com uma palavra, é a vivencia do Amor na sua forma mais completa e abrangente que se impõe, derrota o mal, o pecado e a mesma morte. Com efeito, o amor pelo qual o Pai entrega o Filho, é o amor do Filho pelo qual se entrega à vontade do Pai, é o mesmo Amor do Espírito Santo que resgata, purifica e santifica a humanidade e faz que o Pai seja Pai, o Filho ser Filho e a ele mesmo - o Espírito Santo- ser o evento da ressurreição na pessoa do de Jesus pela vontade do Pai. A ressurreição é o triunfo do amor da Trindade. Sendo Jesus o nosso representante na Trindade, o que aconteceu nele está acontecendo objetivamente em nós, pois, ele age como se fosse eu mesmo. Todo o meu eu assume ele. A sua luta é a minha. A sua vitória é a minha. A sua morte é a minha. A sua ressurreição é a minha. Eis, então, a “vida nova” que irrompe em mim. Acreditar nele -“Quem crê em mim” é enxergar e assumir esta verdade e vivenciar na pratica de vida, no dia- a - dia, o que já ele ganhou por mim “E todo aquele que vive e crê em mim”. A sua luta, a sua missão o seu destino é o meu. Eis, então a síntese de tudo isso nas palavras de Paulo “se fomos de certo modo identificados a Jesus Cristo por uma morte semelhante à sua, seremos semelhante a ele também pela ressurreição” (Rm 6,5). Então, haverá o comprimento último e definitivo das palavras da primeira leitura “ Porei em vós o meu espírito, para que vivais - em plenitude- e vos colocarei em vossa terra - esta mesma terra transformada em céu”.

4to DOMINGO DA QUARESMA-A-(03-04-11)


1ª leitura 1Sm 16,1b.6-7. 10-13ª

O texto apresenta um momento muito importante da história do povo de Israel: a consagração de Davi como rei de Israel. O relato coloca em evidencia o critério da escolha. Samuel, o profeta do Senhor, é chamado para esta missão. Vendo o primogênito de Jessé, Eliab, considera a importância da primogenitura e do aspecto físico e conclui “Certamente é este o ungido do Senhor!”. Eis, então, a resposta do Senhor “Não olhes para a sua aparência nem para a sua grande estatura, porque eu i rejeitei”. O motivo da não aceitação é colocado a continuação “Não julgo segundo os critérios do homem: o homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração”. É o coração o centro motor de toda a pessoa, o que determina os critérios e a motivação das escolhas e do agir. Nele estão posto os olhos do Senhor. O homem não tem condição nem capacidade e, as vezes, nem vontade de chegar até lá. Ele fica deslumbrado e conformado com as aparências. Muitas vezes ele mesmo age em nível das aparências, para ganhar o consenso e a admiração dos outros. Entre os filhos, o que tinha menos consideração pelo pai “Estão aqui todos os teus filhos?. Jessé respondeu : resta ainda o mais novo que está apascentando as ovelhas’’ é escolhido pelo Senhor “Levanta-te , unge-o: é este! (...) e a partir daquele dia o espírito do Senhor se apoderou de Davi”. A diferença entre os critérios dos homens e o critério e Deus alerta com respeito às referencias que conformam a autenticidade ou menos dos valores a serem tomados em consideração na avaliação do melhor para a existência humana. Assim como é fácil se deixar enganar quando conduzidos pela exterioridade e superficialidade das aparências. Mas, como chegar ao coração humano? Como discernir a autenticidade e a verdade dos sentimentos, das palavras, dos atos? Não nos conhecemos completamente a nós mesmos; como conhecer aos outros na verdade do ser e dos sentimentos deles? É um caminho não fácil e demorado, cheio de armadilhas e de enganos. È preciso caminhar nele na autenticidade do próprio ser e dos próprios sentimentos, com atenção aos sentimentos e atitudes e escolhas dos que nos acompanham, conscientes da ambigüidade de toda pessoa. A desconfiança é rainha da circunstância e também elemento que suscita a prudência no falar e no agir. Contudo, ele deve se vencida pelo amor à verdade e ao bem. A transparência será a condição para perceber a autenticidade da pessoa. É como a marca de água da bondade e autenticidade do produto. Portanto, é a base fundamental da verdadeira amizade e comunhão entra as pessoas. Nela se manifesta a verdade da pessoa e Aquele a que esta nela e ultrapassa a ela mesma... A transparência é luz que vence as trevas do engano e do mal, como incida a segunda leitura.

2da leitura Ef 5,8-14

Paulo define a condição dos cristãos, a passagem da treva à luz pela adesão aos efeitos da morte e ressurreição de Jesus Cristo “Outrora éreis trevas, mais agora sois luz no Senhor”. Trata-se da transformação radical que afeta todo o ser da pessoa em todos os níveis. Ela é uma nova criatura. Portanto, a conseqüência é evidente: “Vivei como filhos da luz”. Evidentemente, a maneira de viver deve-se ater à maneira de ser. Um cachorro não pode se comportar como cavalo, por exemplo, pois, é cachorro e não cavalo. Portanto, o cristão é luz e deve-se comportar nele como luz, que ilumina todo homem que vem no mundo. “E o fruto da luz chama-se: bondade, justiça, verdade”. Com efeito, os três termos abrangem a totalidade da ação salvadora a favor da pessoa. O que é bom em ordem à identificação com Cristo, ao estilo de vida a missão dele e, sobretudo, ao dom de si mesmo para que a boa noticia do evangelho se torne boa realidade é cumprir toda justiça, é fazer a verdade. Positivamente, o apostolo exorta “Discerni o que agrada ao Senhor”, e negativamente “Não vos associes às obras das trevas, que não levam a nada; antes, desmascarai-as”. Assim, viver como filhos da luz e produzir bons frutos são uma atividade da inteligência, do coração aberto e, ao mesmo tempo, uma luta contra as forças adversas. O que agrada ao Senhor é a salvação, ou seja, que a pessoa seja autentica no dom de si mesma, para sustentar e animar a comunhão na diversidade. O discernimento entre o certo e o errado vai muito além das normas e leis que pretendem estabelecê-lo. Todo sabe da diferença entre e lei e o espírito da mesma. E como esta diferença abre um amplo espaço de considerações e com elas margens de criatividade nas respostas, que podem ir até muito longe da letra da lei. Por outro lado, é preciso manter distancias das “obras das trevas”. Isto supõe ter clareza dos mecanismos, da lógica intrínsecas delas, que conseguem trazer em enganos a apresentar como correto e bom o que não é. As trevas “brincam” muito com a astúcia, o melhor, com a meia verdade, escondendo aquela parte que se manifestará como engano só depois ter aderido à proposta. Muitas vezes, infelizmente, não há possibilidade e condição de retorno. O discernimento é um ver e perceber a realidade de maneira certa e com a maior amplitude possível. Nesse sentido é preciso o dialogo e a contribuição de outros, assim como a humildade de considerar o próprio ponto de vista como a vista e um ponto. Portanto, toda analise, bem que necessária terá um caráter provisional. Contudo, é necessário proceder ao julgamento e discernir o certo do errado à luz do critério acima indicado. A bondade do discernimento aplicado na vida da pessoa e na realidade social, será comprovado pelos frutos, evidentemente, orientados à meta e ao sentido último da existência. É esta capacidade e condição de ver que o evangelho frisa.

Evangelho Jo 9,1-41

Ponto de partida: “Os discípulos pergunta a Jesus: Mestre, quem pecou para que nascesse cego”. A resposta “Nem ele nem seus pais pecaram” quebra uma tradição, um entendimento teológico consolidado. Jesus acrescenta o que será o pano de fundo para entender o que a continuação vai acontecer “mas isso serve para que as obras de Deus se manifestem nele. É necessário que nós (inclui os discípulos) realizemos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia (enquanto ele está presente). Vem a noite ( com a morte dele na cruz), em que ninguém pode trabalhar. Enquanto estou no mundo,eu sou a luz do mundo”. Esta luz devolve a visão ao cego, por meio da confiança dele na indicação e na palavra de Jesus. De imediato surgem divergências entre o povo: quem diz que é ele, quem não é outro, apesar de afirmar ser ele mesmo agraciado pela ação de Jesus. Então, o povo se dirige aos fariseus - os religiosos “doc” da época, os quais sentenciam com base na própria pratica e sustentados da teologia dos escribas: “Esse homem não vem de Deus, pois não guarda o sábado (...). Como pode um pecador fazer tais sinais?”. A alternativa é negar que seja pecador ou negar o sinal. Escolhem a segunda e se empenham com todos os meios e a argumentação necessária para mostrar a bondade da própria atitude. Perante a surpreendente argumentação e ironia do agraciado “Se ele é pecador, não sei (...). Por acaso quereis tornar-vos discípulos dele?” e, a continuação, o polêmico dialogo com diferentes argumentações de um lado e do outro, os fariseus se fecham, não querem ver “Tu nasceste no pecado e estás nos ensinando?”. E sentenciam a expulsão do homem da comunidade. O verdadeiro cego são eles, não querem ver as obras de Deus, a teologia deles o impede. Entre parêntesis, algo parecido está acontecendo também na Igreja. Ela está se enforcando com a doutrina dela, com respeito à exclusão da comunhão eucarística dos divorciados que convivem com o segundo relacionamento. Para estes aceder à comunhão deveriam matar o cônjuge ou não fazer sexo. A Igreja escolheu a segunda, se refugiando na comunhão espiritual e desvalorizando a Eucaristia que ordena comer e beber. E tudo para salvar a doutrina! Espera-se que pronto a Igreja elabore uma saída mais adequada. Jesus sai ao encontro com o expulsado e lhe pergunta “Acreditas no filho do Homem? (...) . Tu o estás vendo; é aquele que está falando contigo”, à qual responde com a profissão de fé “Eu creio, Senhor! E prostrou-se diante de Jesus”. Assim, a teologia dos fariseus é como uma aparência, para retomar o sentido da primeira leitura. Não manifesta o sentir e o coração de Deus. Fica como na exterioridade e possibilita entender ou enxergar as coisas só de maneira superficial. Apesar de eles terem entendido o significado da ação e das palavras de Jesus ao ponto que disseram “Porventura, também nós somos cegos?”, não conseguem dar um passo para frente. Daí a dramática conclusão de Jesus “Se fosseis cegos, não teríeis culpa; mas como dizeis: Nós vemos, o vosso pecado permanece”. Então, Jesus liga com a afirmação inicial do texto que originou tudo o que seguiu “Mestre, quem pecou para que nascesse cego, ele o seus pais?”. Cuidado em discernir corretamente o que é realmente o pecado e onde ele está presente com toda sua força e poder, até o ponto não permitir enxergar a obra de Deus, que além de devolver a visão e a vida oferece uma nova compreensão, uma nova teologia que aproxima e gera a verdadeira comunhão com Ele.